Zwi Migdal - Organização Criminosa Judaica

A Zwi Migdal, ou Zvi Migdal foi uma organização criminosa constituída por judeus do Leste Europeu, e que operou ao longo de meados do Século XIX (cerca de 1860) até a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939).

Essa organização dedicou-se especialmente ao tráfico de mulheres destinadas à prostituição, vindas da própria comunidade judaica ou das populações não-judaicas que viviam nas vilas categorizadas como "Shtetl", ou vilas judias da Europa Central. Essa grande região incluía partes das modernas Polônia, Rússia, Alemanha, Lituânia, Estônia, República Tcheca, Ucrânia, entre outros países. O comércio de pessoas nessa região é um crime antigo, remontando à Idade Média europeia: a própria palavra "slave" (escravo, em inglês moderno e no francês arcaico; no francês moderno, "esclave"), denuncia a prática da escravidão envolvendo os povos eslavos como suas principais vítimas.


A chegada das "polacas" consta do ano de 1867, porém o fluxo de judias prostituídas aumentou com a fundação da Zwi Migdal, organização responsável pelo tráfico internacional de mulheres, que possuía ramificações em vários continentes, monopolizando o tráfico na Europa Centro-Oriental, em Varsóvia, Paris, Berlim e no Porto de Odessa. Nomes como Organização para a Ajuda Mútua de Varsóvia eram usados pela organização como fachada, para recrutar moças pobres da Europa Oriental. É justamente do nome Organização para a Ajuda Mútua de Varsóvia que origina o termo polaca, devido à conexão com a capital polonesa, onde se encontrava uma de suas sedes. Muitas das "polacas" chegaram ao Brasil através de Buenos Aires, capital da Argentina, onde a organização coordenava todas as atividades de suas filiais e representações do continente. Em todas as filias, sejam na Argentina ou no Brasil, a Organização para a Ajuda Mútua de Varsóvia operava escritórios, sinagogas e cemitérios para o uso dos membros da organização.

(Jornal argentino de 1930 anunciando a prisão de 108 membros da organização.)

O primeiro navio trazendo jovens mulheres judias chegou ao Brasil em 1867, e até 1913 a organização controlava centenas de prostíbulos em várias cidades brasileiras. Em seu ápice, após a Primeira Guerra Mundial, a Zwi Migdal dirigia bordéis ao redor do mundo, desde Nova York até Xangai, incluindo África do Sul, Índia e China. O centro das atividades era na América do Sul, especialmente nas grandes cidades como Rio de Janeiro e Buenos Aires, mas também São Paulo, Manaus e Belém. A Zwi Migdal possuía mais de 3000 bordéis só na Argentina.


As "polacas" ficaram famosas na mitologia urbana carioca do começo do século XX, e sua presença foi marcante na Era Vargas (1930-1945). O embarque dos cáftens e das prostitutas para o Rio de Janeiro era feito no porto de Marselha, na França, onde havia um mercado de compra e venda dessas mulheres. Quando da chegada das primeiras prostitutas judias, ocorria a sua distribuição por áreas centrais da cidade do Rio de Janeiro. Na década de 1920, com as progressivas repressões policiais, elas acabavam se concentrando na Praça Onze, passando a conviver com o restante da comunidade judaica. Neste período, a região era conhecida como o bairro dos judeus, sendo também denominada Zona do Mangue, por causa do canal que atravessava o local. Tanto nos bordéis, quanto nas ruas, estabeleceu-se uma hierarquia: de um lado, as cocottes francesas que representavam a elite do meretrício, mulheres de boa aparência que circulavam nas altas rodas da sociedade; de outro, as polacas, que levavam consigo a imagem de proletárias do sexo.

(Rufiano (cafetão) ligado ao a Zwi Migdal Sociedade)

Por quase um século, mulheres judias nascidas no Leste Europeu e conhecidas como "polacas", que se prostituíram no Brasil, usavam expressões que deram origem a muitas palavras populares no Brasil. Quando suspeitavam que um cliente tinha uma doença venérea, diziam "ein krenke" ("doença", em iídiche), que se transformou em "encrenca". "Sacana" em iídiche significa "perigo". Quando a polícia chegava ouvia-se essa palavra sendo pronunciada. Cafetão como sinônimo de proxeneta, por analogia com "caftan" ou "kaftan", um casaco ou sobretudo abotoado pela frente que chega aos joelhos, com mangas longas, tipicamente russo, feito com lã, seda ou algodão, vestido pelos encarregados dos estabelecimentos.

Origem do nome
Originalmente chamada de Organização para a Ajuda Mútua de Varsóvia, a organização mudou seu nome para Zvi Migdal em 7 de maio de 1906, depois de o embaixador polonês arquivar uma queixa oficial às autoridades argentinas sobre o uso do nome Varsóvia.
O nome da associação foi escolhido para honrar Zvi Migdal, que também era conhecido como Luis Migdal wereticky, um dos fundadores da organização. Mais tarde a organização se dividiu, e um dos grupos originários dessa divisão encabeçado por Shimon Rubenstein, fundou uma outra organização com o nome Ashkenazim.

(Luis Zwi Migdal, gangster judeu e proxeneta.)

Legado
Os cemitérios criados pelas associações de prostitutas judeus foram o ponto de partida no reconhecimento e no interesse da história dessas mulheres. Eles estão sendo restaurados e preservados por membros da comunidade judaica brasileira apesar da forte oposição de outros membros que se sentem desconfortáveis ​​com o passado de seus amigos, companheiros ou ancestrais. Na cidade de Cubatão, no estado de São Paulo, existe um cemitério judeu que foi recentemente restaurado. Na cidade de São Paulo, devido às ordenanças municipais, quase todas as tumbas de mulheres judeus foram removidas em 1971 do seu local original no cemitério de Chora-Menino para túmulos anônimos próximos das muralhas do cemitério judeu de Butantã. No Rio de Janeiro, o cemitério de Chesed Shel Emes, localizado perto do cemitério de Inhaúma, com quase 800 túmulos, é abandonado, mas algumas organizações sociais trabalham para proteger, restaurar e preservar.


La Polaca (A Polaca)


La Mafia Judia en la Argentina (A Máfia Judia na Argentina)


La mancha de la Migdal: Historia de la Prostitución Judía en la Argentina (A Mancha do Migdal: História da Prostituição Judia na Argentina)


Argentina

Mordechai Alpersohn, um judeu que imigrou para a Argentina em 1891, afirmou que "perto dos portões da casa de imigração [eles] encontraram algumas dezenas de mulheres elegantemente vestidas e homens gordos em chapéus de topo. Através dos portões", disse Alpersohn, "os proxenetas conversavam com as esposas [dos imigrantes] e davam chocolates às crianças". Os compradores subornaram a polícia em troca de uma mão livre na cidade e desfrutaram de riqueza, poder, e um estilo de vida ostentoso. Uma conta do início do século XX dá esses detalhes:

"Eles usam diamantes enormes, eles frequentam o teatro ou a ópera diariamente. Eles possuem seus próprios clubes, onde a "mercadoria" é classificada, leiloada e vendida. Eles têm seu próprio código secreto[...] Eles se sentem confortáveis ​​no bairro judeu sabendo que muitos dos alfaiates, lojas e joalheiros dependem deles como clientes."
(O jornalista francês Albert Londres, que informou sobre as atividades do sindicato internacional do sexo, morreu no mar quando seu navio, o MS Georges Philippar, pegou fogo sob o que alguns alegaram ser circunstâncias suspeitas.)

Foi finalmente o testemunho de uma das prostitutas, uma polaca chamada Raquel Liberman, que definiu o fim do "comércio de escravos brancos" judeus na Argentina. Ela conseguiu fornecer informações valiosas a um oficial da polícia, Julio Alsogaray, e um juiz, Rodriguez Ocampo, que não estavam dispostos a aceitar os subornos dos delinquentes. 

(Raquel Liberman)

No entanto, nenhuma das outras mulheres no serviço dos proxenetas testemunharia e foi deixada ao governo ditatorial formado pelo general José Felix Uriburu em 1930 para lidar com o golpe de graça com o Zwi Migdal, restringindo a imigração e a naturalização.

Aqueles judeus que se opuseram ao sindicato da prostituição fizeram isso não por indignação moral, mas por preocupações sobre as possíveis repercussões da pouca reputação dos imigrantes judeus.

(Jose Felix Uriburu)

"Ação corajosa de Liberman [no testemunho contra o Zwi Migdal] não destruíra completamente o tráfico de prostituição, mas teve consequências muito efetivas: A maioria dos bordéis em Buenos Aires foi fechada e centenas de traficantes foram presos ou tiveram que fugir.".

Raquel Liberman

Rachel Lieberman, nasceu em Lódž, na Polônia. Ela, como tantos outras, foi tentada a viajar para Buenos Aires respondendo a um anúncio matrimonial, mas foi levada para a rua Jonin onde ela foi forçada a se prostituir.

(Rachel Lieberman e dois de seus filhos)

Depois de cinco anos, ela teve dinheiro suficiente para entrar no mercado de móveis antigos para sustentar a si mesma e seus filhos, mas os rufianos tornaram impossível isso para ela. Eles não queriam que ela desse um exemplo para as outras escravas. Mas essa mulher nunca foi parada.
Em desespero, contatou o superintendente Julio Elsogray. Ela ouviu seu nome mencionado na rua como aquele que não tomaria o dinheiro da Zwi Migdal e estava realmente procurando maneiras de destruir a organização. Ela entrou no escritório um dia e deu um relato detalhado das conexões entre os vários proxenetas (cafetões) no gerenciamento da organização.
Seu testemunho foi motivo suficiente para iniciar uma investigação extensa. Desta vez, ao contrário das ocasiões anteriores que não levaram a nada, as descobertas chegaram ao Dr. Rodríguez Ocampo, um juiz que não aceitaria os subornos da Zwi Migdal também.
O longo julgamento terminou em setembro de 1930, com 108 detidos. "A própria existência da Organização Zwi Migdal ameaça diretamente a nossa sociedade", o juiz escreveu em seu veredicto, liberando longas penas de prisão.
No entanto, na prisão, os proxenetas (cafetões) puxaram algumas cordas antigas, apelaram suas sentenças em janeiro de 1931, e funcionários do Ministério da Justiça seniores deixaram apenas três dos condenados na prisão, libertando o resto.
Quando a mídia informou isso, o público ficou muito chateado e pressionou as autoridades para reverter a decisão de libertação. Posteriormente, centenas de proxenetas (cafetões) foram deportados para o Uruguai. "Ao longo dos anos, eles voltaram lentamente um a um, mas a era dos bordéis enormes terminou", Sheinfeld resumiu essa história.
Raquel Liberman morreu em 7 de abril de 1935 de um câncer de garganta, tendo seus 35 anos, dos filhos pequenos e a ilusão de voltar a Polônia para refazer sua vida.

Novela Sobre Raquel Liberman

A historia de Liberman será levada ao cinema por Daniel Burman. Ele diz: "Raquel no eligió ser lo que era, estava escravizada em um prostíbulo. Tinha medo por sua vida e dos seus filhos. Como muitas outras, havia sido enganada por um cafetão com a promessa de matrimonio e sequestrada depois. Tentando sair desse mundo como pudia".O filme se baseara no livro "La Polaca" (A Polaca), a novela conta sua vida e vai ter quatro edições.



Bibliografia

I.B. Singer's "Scum" and Sholem Aleichem's "The Man from Buenos Aires."
Tomas Eloy Martinez: The Tango Singer (El Cantor del Tango), Buenos Aires (2004) Grupo Editorial Planeta S.A.I.C.
Zwi Migdal's cemetery is the center of Nathan Englander's The Ministry of Special Cases, NY, Knopf ed.
The life of one of the women exploited by Zwi Migdal is the center of Ilan Sheinfeld's "The Tale of a Ring", only available in the original Hebrew מעשה בטבעת, Jerusalem, Keter publishers.
Patricia Suarez Las polacas, Colección teatro vivo, Buenos Aires 2002
Horacio Vázquez Rial: Frontera Sur

Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Zwi_Migdal
https://en.wikipedia.org/wiki/Zwi_Migdal
https://aryanskynet.wordpress.com/2016/05/14/pimps-and-polacas-the-preeminence-of-the-proboscis-in-prostitution-in-buenos-aires/
http://theawarenesscenter.blogspot.com.br/2012/12/understanding-zwi-migdal-society.html
https://www.clarin.com/sociedad/zwi-migdal-filman-historia-mafia-polaca-argentina_0_H17f53aJ0Ke.html

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